sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A RADIOGRAFIA DE UM MOMENTO.






Quando do anuncio da aliança entre o governador Eduardo Campos e a ex-senadora Marina Silva eu recomendei boas doses de cautela para os mais afoitos, pois em se tratando de política eleitoral as aparências não só enganam como desenganam. Alguns saudavam a união entre Eduardo e Marina como o fato que mudaria o cenário eleitoral. Outros diziam que a reeleição de Dilma estava ameaçada. E tinha os iludidos de sempre que se apegam as novidades sem fazer uma leitura detida da realidade. Eu vi a movimentação do PSB com a REDE Sustentabilidade tão somente como o que ela era, i.e., como uma aproximação entre forças políticas visando um embate eleitoral. Agora, vamos ver como essa questão é retratada pela radiografia do momento.



Chegou, então, a hora de analisar a primeira pesquisa, sobre a eleição presidencial/2014, feita após o anuncio da aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos. Os dados podem nos mostrar se essa aliança tem o potencial que promete. Talvez eles revelem se a reeleição de Dilma é algo realmente viável. E ainda tem algumas questões acerca do comportamento da oposição no processo, mas especificamente sobre o PSDB e suas indefinições sobre que ator ganhará o papel do “anti-Dilma”. Sempre lembrando, claro, que estou apenas analisando este momento. Aliás, eu vou sugerir ao caro ouvinte que nunca, jamais, tome o momento político-eleitoral que estiver analisando como a demonstração do resultado final.



A pesquisa, feita pelo Ibope, foi encomendada pela Rede Globo e pelo Estado de S. Paulo. Daí, tenho mais uma sugestão a fazer. Dê as pesquisas o benefício da dúvida não só por causa de quem as encomenda, mas por que elas têm lá suas vulnerabilidades. A pesquisa, divulgada ontem, alegrou os petistas. É que ela traz dados que demostram uma real possibilidade da presidente Dilma se reeleger já no 1º turno. Eu, particularmente, não acredito que uma eleição tão complexa se resolva facilmente.




A pesquisa ouviu 2.002 eleitores, em 143 municípios brasileiros, entre os dias 17 e 21 de outubro, i.e., ela começou a ser feita 12 dias depois do anuncio da aliança entre Marina e Eduardo. Tempo suficiente para o eleitor fazer alguma análise do fato. O IBOPE desenhou três cenários e, em pelo menos dois deles, os adversários elencados para Dilma não conseguiriam forçar a realização de um 2º turno. A preço de hoje, a maior ameaça para o projeto de reeleição de Dilma chama-se Marina Silva. A pesquisa atesta a força de Marina e não traz boas notícias para Aécio Neves, pois mostra José Serra com mais potencial para tirar votos de Dilma do que ele. Isso pode dar algum ânimo a Serra para voltar a pleitear sua candidatura junto ao PSDB.



No 1º cenário Dilma tem 41% das intenções de voto, contra 14% de Aécio e 10% de Eduardo. Vamos considerar, aqui, que a margem de erro da pesquisa é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos, e que Aécio e Eduardo somam 24 pontos. Com este cenário não haveria 2º turno, pois Dilma abre um frente de cerca 15 pontos sobre Aécio e Eduardo. Assim, se a oposição quer ter sucesso eleitoral em 2014 terá que abrir mão ou do governador ou do senador. O problema é: quem aceita sair do jogo? Este cenário mostra que o PT sabia bem o que fazia quando partiu para impedir o registro da REDE Sustentabilidade. O governo sabia (sabe ainda) que tirar Marina do páreo é um importante passo no projeto da reeleição.




No 2º cenário, permanece Aécio, sai Eduardo e entra Marina. Dilma fica com 39%, Marina com 21% e Aécio com 13%. Este cenário torna real um 2º turno, pois Dilma só teria algo em torno de 5% de vantagem sob a soma dos percentuais de Marina e Aécio. Este cenário enfraqueceria Eduardo e fortaleceria Marina quando PSB e REDE tiverem que enfrentar o dilema de terem dois candidatos para o mesmo cargo. Marina vai lembrar a Eduardo que ela leva algo em torno de 11% pontos de vantagem sobre ele.



O 3º cenário é improvável na medida em que, teoricamente pelo menos, Marina e José Serra não seriam candidatos. Ela porque o PSB já teria definido que o candidato é Eduardo Campos e ele porque o PSDB teria fechado questão em torno de Aécio Neves. Mas, os números servem, dentre outras coisas, para implodir pretensões eleitorais e libertar vontades represadas. Neste cenário, Dilma tem 39%, Marina tem 21% e Serra 16%. Somados, Marina e Serra chegariam a 37% e forçariam um 2º turno.



Se vontades individuais não se sobrepuserem ao projeto da oposição, que é voltar ao poder depois 12 anos de governo petista, este cenário seria o melhor de todos para a oposição, pois leva Dilma a um 2º turno e com empate técnico. Os cenários mostram que a união entre Marina e Eduardo não fortaleceria a oposição no embate eleitoral com o governo, pois Eduardo segue com o pior percentual de todos e Marina só força o 2º turno se estiver junto com o PSDB.




A fotografia do momento mostra que a eleição será mais complexa do que se pensa. Mostra que bater o projeto de reeleição de Dilma requer bem mais coisa do que uma simples aliança pirotécnica entre atores políticos tão diferentes com Marina e Eduardo.




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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.






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