quinta-feira, 18 de maio de 2017

"Decime que se siente" - O Brasil e a teoria do fundo do poço




A celeridade e a agonia dos fatos dificultam o cumprimento do metiê do cientista político que é analisar o estado de coisas que nos cercam. Assim, vou elencando análises, opiniões, dados e informações relevantes para lidarmos com este momento. A teoria de que o fundo do poço, no Brasil, seria apenas uma etapa a se cumprir rumo ao infinito, as profundezas, parece mesmo crível.


A impressão que tenho é que chegamos a fase "fundo do poço" com o presidente da República, flagrado, incentivando alguém a seguir "comprando o silêncio" de um ex-deputado preso e com um senador, ex-candidato a presidente, pedindo para um empresário lhe dar dinheiro para ele se defender de acusações feitas nos vários inquéritos que tem que responder.


A medida em que a delação premiada de um dos proprietários da empresa JBS, Joesley Batista (JB), foi invadindo o noticiário, a partir de material vazado para o jornal O Globo (e já é tempo de perguntar quem, como e porque vazou?), fui analisando a questão a partir das consequências que podem se gerar. Em tempo, não precisa muito para deduzir que essa delação do JB é uma vingança por causa da "Operação carne fraca", um braço da Lava Jato, que atingiu em cheio os frigoríficos Friboi.


O tal JB disse que Aécio Neves lhe pediu R$ 2 milhões para pagar suas despesas com os inquéritos da Operação Lava Jato. Mas, se listarmos as acusações que pesam sobre o senador, essa do JB parecerá brincadeira de criança. Certo, Aécio Neves foi afastado do cargo e não é mais presidente do PSDB, está proibido de deixar o país, pessoas próximas a ele já estam presas, ele teve imóveis devassados pela Polícia Federal, o STF ainda não teve coragem de mandá-lo para cadeia, etc, etc, etc. Isso tudo pode, sabemos, dar em nada. Mas, e isso não é pouco, o senador viu seu capital eleitoral esvair-se em menos de 24 horas.


Falando em consequências, estive pensando nos sentimentos dos 50 milhões, 993 mil e 533 brasileiros que votaram em Aécio Neves para presidente da República em 2014. 
Como será que estes 48.35% dos eleitores estam se sentido agora que não podem mais se enganar, que não podem mais supor que votaram num homem íntegro, honesto, sincero? Como diriam os argentinos, "decime que se siente" agora que não mais poderás dizer, tal qual o ex-jogador de futebol Ronaldo Nazário, que não tens nada haver com isso pois votastes em Aécio Neves? Longe de querer tripudiar, falo como um dos quase 54,5 milhões de brasileiros que votaram em Dilma Rousseff e que bem sabem que ela não cometeu os crimes, que lhe foram imputados, e que serviram de justificativa para o processo de impeachment de 2016. 


Assista o vídeo acima! Nele vemos atores da Rede Globo como Ney Latorraca, Rosamaria Murtinho, Márcio Garcia, Marcelo Madureira emprestando suas famas para Aécio. Faltou Regina Duarte dizendo que estava com medo do PT e de Lula. Vemos cantores como Fagner, Sandra de Sá, Zezé di Camargo, Chitãozinho & Xororó, Bruno & Marrone, afirmando que Aécio é a melhor solução. Esportistas como Bernardinho, Zico, Anderson Silva, Oscar Schmidt destacam que Aécio representa o novo. Cada um tem o direito de ter opiniões e opções. As pessoas devem ter liberdade até mesmo para se enganarem! Mas, por favor, "decime que se siente!"



Esta charge explica a situação de uma forma que tivesse eu espaço para dez mil palavras e mesmo assim não o faria tão claramente. Após o jornal O Globo e o Jornal Nacional decretarem o fim do governo usurpado de Michel Temer, ao divulgar a delação premiada do JB, fiquei imaginando quanto tempo o presidente mais ilegitimo, desses anos de frágil democracia, permaneceria no cargo que legalmente pertence a Dilma Rousseff.

Imaginei que Temer resistiria mais uma semana se tanto. Seria o tempo hábil para a Rede Globo, e suas afiliadas oficiais e oficiosas, ruminar as denuncias forçando a renuncia. Passaram-se 24 horas e Temer segue dizendo que não renunciará. Mas, a essa altura ele já deve ter dito a D. Marcela para fazer as malas de volta a São Paulo.


É que o Supremo Tribunal Federal (STF) já autorizou abertura de inquérito contra Temer acatando a solicitação da Procuradoria-Geral da República (PGR). O que mais fazer depois que JB delatou que encontrou Temer (em 07 de março) para lhe dizer que seguia pagando o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e do lobista Lúcio Funaro?


Inclusive, JB gravou a conversa e nela o ainda presidente diz: "tem que manter isso, viu?" se referindo a necessidade de dar prosseguimento ao mutismo de Cunha e do lobista. Temer resiste porque é preciso manter os fundamentos do golpe de 2016, do qual é simbolo maior. Temer sairá, sim, da presidência, mas só quando terminar de fazer o papel sujo ao qual se prestou de tão bom grado. Tal qual Eduardo Cunha, será cuspido fora assim que não mais for útil. 




O fato é que o conglomerado golpista desmoronou. Agora é cada um por si e o diabo por ninguém. Os setores poderosos da comunicação, como a Rede Globo, não parecem mais querer gastar preciosos minutos com matérias para inocentar os Aécios Neves que pululam por aí. 


O Judiciário faz o seu próprio jogo vislumbrando poder ter um dos seus no lugar de Temer. Falo da presidente do STF, ministra Cármen Lúcia. É que com a renúncia (ou impeachment) de Temer e a impossibilidade dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira, respectivamente o "Botafogo" e o "Índio" no esquema da Lava Jato, assumirem a presidência (devido aos inquéritos onde são réus), Cármen Lúcia seria a próxima na linha sucessória presidencial. Tudo com as bençãos do setor de comunicação do conglomerado golpista.


Lembra a história que diz que quando o barco começa a afundar os ratos são os primeiros a sair? No caso brasileiro, o barco, digo governo, é formado por ratos, ratazanas e demais corroedores das instituições politicas. O barco do governo golpista se encontra nas profundezas de um mar de lama sem fim e suas ratazanas mais pesadas anunciam que vão abandoná-lo.



O ministro da cultura, Roberto Freire (PPS), anunciou que vai deixar o governo Temer por causa da "revelação de que o presidente foi gravado dando aval para compra do silêncio de Eduardo Cunha". O ex-comunista descobriu, finalmente, que o governo que tanto contribuiu para montar é um grande barco cheio de ratazanas? Quanta ingenuidade!




O PSDB, com seu extinto de sobrevivência a flor da pele, está em permanente reunião desde o final da edição do Jornal Nacional da quarta-feira (17/05). A direção nacional já decidiu que Aécio Neves está por conta e risco, como se dizia antigamente, e que tem que deixar a presidência do partido. Não me parece que o grã-tucanato paulista esteja preocupado com as dores e o futuro político do senador mineiro.


Fernando Henrique Cardoso já emitiu o canto da sereia pela imprensa defendendo um mini-programa com viés golpista. A ideia é (1) PSDB entrega todos os cargos que tem no governo; (2) Temer renuncia; (3) Aécio Neves deixa presidência do partido e some das vistas tucanas; (4) num processo dos mais rápidos, teríamos uma eleição indireta no Congresso Nacional que escolheria um novo presidente. Imagine, as ratazanas da Câmara e do Senado escolhendo um presidente sem ter que se preocupar com seus próprios eleitores! Faltou apenas FHC propor a recriação do senador biônico dos tempos da ditadura militar.


Por que o PSDB defenderia uma eleição indireta? Elementar, porque se for disputar uma eleição direta contra Lula perderá, mesmo que seu candidato seja o Anjo Gabriel tendo o Papa Francisco como companheiro de chapa.


Por ora, resta-me pensar como cidadão, eleitor. Preciso perguntar o que é melhor para nossa sociedade e a resposta é só uma: PRECISAMOS DE UMA ELEIÇÃO DIRETA JÁ, AGORA!, pois o que as ratazanas querem é diametralmente oposto e diferente do que nós, ratinho sem eira nem beira, queremos.

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